14 de janeiro de 2004

Continuando a série de instruções recebidas pelo anjo (?) em janeiro de 2004.
Ele me aparece à noite, quando passa o orvalho mais frio. A primeira sensação que denuncia sua presença é uma brisa ligeira, noturna, fria. Não é forte ou rápida, mas é uma brisa.
Uma luz tênue me permite ver essa figura formidável. Dessa vez, já tinha perguntas prontas, que fui despejando à queima roupa.
– Qual é seu nome?
– Você sabe meu nome.
– Sei?! Como?!
– Por que você acha que eu venho? Você é quem me evoca.
– Mas por que não consigo lembrar disso?
– Porque você não deve lembrar. Em que isso beneficiaria você? Vai escrever em algum lugar, contar pra alguém?
– O que importa é que você consiga me chamar quando necessário.
– Isso me cheira safadeza. Não é muito cômodo isso? Quero dizer, isso não me dá garantia alguma sobre você, ou sequer garante que isso esteja acontecendo.
– Para que garantias? Isso é termo de homens, não do espí­rito. No lado que se define como espiritual, não existe troca, garantia ou barganha. Aqui, onde tudo é incorruptí­vel, tuas garantias não valem. A proximidade com o Criador dispensa qualquer negociação. Sobre ter acontecido ou não, é algo que só diz respeito a você. Quantas coisas suas foram vividas e você nem sequer recorda, e quantas nunca existiram mas você criou?
– Você está fugindo. Disse muitas coisas, mas nada que eu quisesse ouvir ou tenha lhe perguntado.
– Só responderei àquilo que é importante que você saiba ou recorde. As outras coisas são respondidas apenas para teu espí­rito. Logo, sua mente não se lembrará, pois esse conhecimento não é pertencente a esse reino.
– Que reino?
– Da mente. Ou você acha que ali é a única sede das tuas lembranças?
– Imagino que não seja. Mas e a verdade? Como saber se o que você fala é verdadeiro?
– Da forma que você espera julgar, não tem como saber. Seus filósofos tentaram dar definições da verdade, nega-la ou subjuga-la. Mas seu (o da verdade) poder na realidade é tão imenso e poderoso, que não existe algo que possa abarca-lo. Talvez o amor seja a única coisa que faça paralelo com a verdade. Por isso é igualmente difí­cil defini-lo.
– Mas afinal, como posso me aproximar dessa “Verdade”?
– Ela se aproxima de você. O grande problema das definições dos seus filósofos é que eles tentam descrever o indescrití­vel. A verdade não é um conceito, é uma emoção.
– Volta tudo!!! Como assim, uma emoção???
– Há muitas coisas que vocês ignoram. Uma delas é a forma de encontrar a verdade. A verdade é colocada em vocês como um desejo, uma melancolia, uma pequena chama que arde. Daí­ para diante, a única coisa que lhes importa é perseguir esse anseio. Enquanto não sentem esse brilho, esse sentimento, é porque estão afastados.
– Mas ela não pode ser percebida objetivamente? Como diferenciar a verdade da mentira?
– Você não está atento ao que estou falando? Enquanto não bebem da verdade, vocês ignoram por completo o que ela é ou o que ela é capaz de fazer. Mas uma vez que se é tocado por ela, seu mundo nunca mais é o mesmo. E toda a existência volta-se para ela, como um fim último. Mas devo dizer que ela não é ou vira uma obsessão, ou um ví­cio. A sua busca não causa sofrimento. A partir do primeiro toque, a verdade será a fonte de toda a alegria.
– Mas se não encontra-la? Deve ser terrí­vel buscar algo eternamente. Deve ser doloroso beber apenas uma vez para depois perde-la.

– Você nunca perde. Nunca perde e nunca esquece. A verdade é semelhante às ondas do mar. Ciclicamente, elas atingem a praia, mas nunca vão embora totalmente e nunca se perdem. Não existe contudo, alguém que possa abranger a verdade, da mesma forma que ninguém abarca o mar. Pense em todas as boas experiências que teve durante a vida. Não se consegue voltar a experiência, e no entanto, a mera lembrança nos comove e emociona. Assim também é a verdade. A única diferença, é que o sentimento causado por ela nunca passa, é uma constante. Mas como o mar, continuamente novas ondas chegam à praia.
– E vocês sabem de tudo?
– Já falamos sobre isso. Não sabemos tudo. Comparativamente, sabemos bem mais que vocês. Mas na totalidade, sabemos bem pouco.
– Então não adianta invoca-los para aconselhamentos ou adivinhações?
– Entenda… Como disse, temos um conhecimento superior de seu mundo. Não dominamos o universo, mas sabemos e alcançamos outras vibrações. Como sabemos muito, podemos oferecer bons conselhos. Com relação à adivinhação, existem alguns que se dispõe a isso, embora a maioria simplesmente ignore, já que a nós em nada beneficia adivinhar. Se o homem se ocupasse mais consigo mesmo, talvez já dominasse os fluxos e refluxos da vida.
– E curas? Podem curar?
– Às vezes creio que ou você não me ouve, ou não entende o que digo. Dominamos muitas partes daquilo que compõe o mundo das vibrações. Tudo é vibração. Vocês, ao nos verem fazendo essas coisas chamam de magia, cura divina. Nós chamamos apenas de realinhamento. Apenas corrigimos a direção tomada pela energia. Embora entre nós seja raro essa perda ou desvio, podemos percebe-la e corrigi-la.
– E magia, vocês a utilizam?
– Tudo é energia. Apenas operamos a energia. Fazendo isso, não existem rituais. Apenas operações. Atos.
– Mas isso a meu ver, também é magia.
– Talvez para você Para nós não.
– Então o que é?
– É vida. Viver é um eterno operar.
– O que mais você pode me ensinar?
– Quando você souber fazer a pergunta correta, não precisará aprender mais nada.
– Como assim? Que pergunta?
– Perceba o quão longe você está dela, e fique em silêncio. Um dia saberá.
– Quando?
– Desculpe, mas não sou dos que fazem adivinhações. Quando estiver mais organizado mentalmente, me chame.

E novamente, fiquei no escuro, banhado por uma nova luz.